É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas,
teu perfil exato e que, apenas, levemente, o vento
das horas ponha um frêmito em teus cabelos…
É preciso que a tua ausência trescale
sutilmente, no ar, a trevo machucado,
as folhas de alecrim desde há muito guardadas
não se sabe por quem nalgum móvel antigo…
Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janela
e respirar-te, azul e luminosa, no ar.
É preciso a saudade para eu sentir
como sinto – em mim – a presença misteriosa da vida…
Mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevista
que nunca te pareces com o teu retrato…
E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te.
Nota Biográfica Mario Quintana nasceu no Rio Grande do Sul, na cidade de Alegrete, em 30 de julho de 1906. Ele foi um poeta, tradutor e jornalista que começou a escrever durante a adolescência e publicou seus primeiros trabalhos na revista da escola. É considerado um dos maiores poetas do século XX, mestre da palavra, do humor e da síntese poética.
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