Maya (Amado Nervo)

És um com Deus: Em tua alma levas teu paraíso
O exterior, que te turva e entristece,
Não cobra realidade senão em ti mesmo:
Tu formas as imagens e logo as desejas trocando-as em ídolos.
O resultado de tuas sensações para ti
Constitui o Universo, e são tuas sensações
Qualidades puras de teu entendimento moral.
Não há objetividade senão em ti próprio
Tu somente és teu fim e teu começo.
A personalidade é ilusão das formas efêmeras;
Os vasos que contem a água são distintos na aparência,
Mas um é o oceano que os enche
E ao qual o nobre líquido haverão de restituir em breve prazo.
O fenômeno (relatividade entre tu e a matéria)
Por ti tem vida, mas tu desdenha-o,
Recolhe-te em ti mesmo: verás que não te fere
e já livre teu Espírito de Maya,
Em divina quietude nadará sempre.