Problemas pessoais no conhecimento de si mesmo – Delia Steinberg Guzmán

Quais são os problemas pessoais que surgem no caminho do conhecimento de si mesmo?

Evidentemente, os que afetam a personalidade, compreendendo-a como o conjunto de expressões físicas e vitais, emocionais e mentais. Sem menosprezar a dor de uma doença ou de um problema físico mais ou menos permanente, as circunstâncias emocionais são mais decisivas, ao ponto de serem elas que condicionam o pensamento e até mesmo a disposição física. É conhecido que em mais de uma ocasião, um grande desgosto reflete-se de imediato no corpo de uma forma ou outra, enquanto bloqueia a mente para todo o raciocínio lógico e sensato.

Por que temos estes problemas pessoais, basicamente emocionais? Por falta de conhecimento dos próprios mecanismos emocionais e, por consequência, pela impossibilidade de resolver as situações conflituosas que se apresentam.

Para todos nós, humanos que vivemos neste mundo, por uma ou outra razão, apresentam-se dificuldades. É algo lógico se concordarmos com os filósofos clássicos, que afirmam que a vida se encarrega de nos ensinar a viver. E não é um jogo de palavras. Podemos aprender com experiências e conselhos de outros, podemos estar prevenidos em relação às conjunturas da existência, contudo nada se equipara à prática vital de tudo o que aprendemos. A vida nos ensina todos os dias, e é bom reconhecê-la como mestra mais do que como inimiga.

Como mestra, nos ajuda a pôr em jogo as nossas maiores potencialidades; se a vemos como inimiga, será apenas um longo caminho de problemas, sobretudo, de problemas pessoais.

Poderíamos enumerar uma lista interminável de problemas, mas basta alguns que quase todos conhecemos. Temos os problemas naturais de sobrevivência, a luta para ganhar a vida de uma forma mais ou menos digna, e mais ou menos de acordo com as nossas vocações e disposições, com os nossos estudos ou preparo. Temos os problemas de estudo e formação, já que nem sempre há possibilidades para ter acesso a eles; ou se sonha estudar para prosperar economicamente para descobrir, anos mais tarde, que não era assim tão fácil como parecia ao princípio. Temos os problemas familiares, já que nem sempre há um claro entendimento entre os que compõem este núcleo. Temos os problemas existenciais, sempre que algumas pessoas se preocupam com o destino, pelo ser interior, pelo universo em que estamos e por mil porquês acerca da nossa posição individual e coletiva no mundo. E, sobretudo, temos os problemas sentimentais, quando não há uma boa relação com outras pessoas e quando não se delineiam amores e amizades satisfatórios.

Sei que poderíamos estender os exemplos, mas através de qualquer um deles é possível chegar a um estado paralisante quando surgem os problemas.

Em geral, a atitude perante o problema é procurar soluções fáceis e rápidas que não impliquem a própria vontade. Recorre-se a pessoas conhecidas, pede-se ajuda a uns e a outros… O problema bloqueia aqueles que procuram a solução fora deles e, sobretudo, aqueles que partem do princípio da injustiça da vida que os submete a tais infortúnios. A emoção negativa ganha terreno, as ideias tornam-se cada vez mais confusas, o organismo começa a revelar angústia e o problema assume então a dimensão de uma montanha intransponível. Resta apenas a dor, o desespero, a irritação, a agressividade contra os outros pela culpa que possam ter… enfim, um poço imenso que se torna cada vez mais e mais profundo do qual é cada vez mais difícil sair.

Alguém que está no fundo, na ruína psicológica, não pode ver a luz. A dor vai remoendo minuto a minuto e não há nada mais do que essa paixão obsessiva.

As soluções devem vir, portanto, logicamente de cima. É necessário transcender o problema e o sofrimento para encontrar uma resposta.

Nem todos somos sábios, é verdade, mas todos nós temos um acúmulo de experiências mais ou menos importantes para encontrar respostas viáveis para o mal que nos aflige. Há que ser capaz de alcançar o nosso recanto de soluções. Algumas serão inúteis, outras discretamente válidas, e não faltarão as francamente boas. Testando e testando, com boa vontade e sem a ansiedade da distorção da emotividade, adquirem-se novas experiências que serão úteis para ocasiões futuras.

Você não é somente um amontoado de emoções ou paixões; também tem inteligência para observar a si mesmo “a partir de fora” e traçar o seu próprio caminho.

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