Declaradas como Patrimônio da Humanidade, são os restos de uma exploração mineira romana situada na comarca de Bierzo (León) e durante mais de 300 anos, as minas de ouro mais importantes de todo o império romano.
Introdução
Quem me conhece um pouco sabe que sinto fascinação pelas conquistas do Império Romano. Há 2.000 anos os expertos romanos encheram a Europa, norte da África e o Oriente Próximo de pontes, aquedutos, calçadas e indústrias onde combinavam um perfeito aproveitamento dos recursos com um engenho fora do comum, ainda em alguns casos, não superado até hoje.
Convém dizer que os romanos não tinham “universidades”, nem escolas de capacitação. A maioria dos arquitetos e engenheiros desta civilização foram seres anônimos, e praticamente todos surgiam do exército. A tropa romana encarregava-se de levar estas conquistas civilizatórias por onde passava. Qualquer soldado romano se tornava, chegado o momento de necessidade, em sapador, mineiro ou especialista em qualquer tipo de construção. Nunca se deram por vencidos ante um desafio técnico.
A ponte de Alcântara, perto do município de mesmo nome (ao norte de Cáceres), tem 198m de comprimento e 48m de altura. Foi concluída em 106 d.C., e na entrada possui um pequeno templete dedicado ao imperador Trajano. Continua sendo a passagem mais confiável atualmente para os transportes ultra pesados. Praticamente todas as enormes turbinas e peças necessárias para as numerosas represas da região devem cruzar o despenhadeiro por ali. Poderia se dizer que sem ela, não seria possível o “Plano Badajoz”.
Debaixo de qualquer dos 128 arcos do Aqueduto de Segóvia, fica-se completamente atônito ao comprovar uma construção de silhares talhados à mícron, de proporções enormes e que ainda continuam desafiando o tempo. Além disso, não se utilizou argamassa nessa construção, a surpresa pode chegar a se converter quase em veneração. Esse colossal canal para a água, de 813m de comprimento e 28,50m de altura, não é o único na Espanha. Podemos destacar também, entre outros muitos, os de Tarragona e Mérida, possivelmente menos famosos, mas que corroboram um gosto pelo asseio e a higiene nas cidades romanas, que a Europa não alcançou até o século XIX.
Ao visitar as Minas de Riotinto (Huelva), os guias têm muito cuidado em explicar que dita exploração data da pré-história. Mostram ao visitante curioso os montões de escórias deixados pelos romanos. E asseguram que estes mineiros de 20 séculos atrás aproveitaram de tal modo o processo de fundição que, com nossas mais modernas técnicas, seríamos agora incapazes de extrair um grama a mais de cobre ou ferro.
As Médulas
Mas se quisermos realmente nos assombrar com as explorações mineiras, o lugar para onde devemos ir é para as Médulas.
As Médulas são os restos de uma exploração mineira romana situada na comarca de Bierzo (León). Hoje em dia, declaradas como Patrimônio da Humanidade e consideradas uma Paisagem Cultural.
O primeiro a planejar uma ocupação da região galega, para a exploração de seus recursos, foi Júlio César em 61 a.C. Predestinado durante sua incontrolável carreira política na Espanha, teve oportunidade de conhecer em primeira mão as riquezas mineiras desse país e, pensou em obter as licenças necessárias para a obtenção do ouro que se escondia nas entranhas do noroeste peninsular. Pensava em custear com elas sua ascensão ao poder do Senado Romano.
Frustrado o plano com sua morte, seu sobrinho Otávio Augusto é quem decide seriamente dominar a Ibéria, consciente das fabulosas possibilidades que essa península oferecia.
Embora também oferecesse uma resistência brutal. O próprio imperador, pessoalmente, teve que combater astures e galaicos, e após uma exaustiva guerra, Augusto venceu o último foco de resistência celta em um lugar que alguns historiadores romanos chamam de “Monte Medúlio”, por volta de 24-25 a.C. Possivelmente, tal lugar se relacione com as Médulas, ou não. O caso é que essa data pode ser considerada o início da exploração das riquezas auríferas da comarca berciana. Durante mais de 300 anos, as Médulas seriam, a partir de então, as minas de ouro mais importantes de todo o império romano.
Ruína Montium
O sistema utilizado para a exploração do ouro nas Médulas é conhecido como ruína Montium. Sem conhecer a dinamite, os romanos faziam literalmente saltar pelos ares montes inteiros.
O processo era o seguinte: nas entranhas da terra, neste caso composta por estratos de arenito e seixo rolado compactados pela pressão, escavavam-se galerias horizontais, cuidando muito para que, em intervalos regulares estas galerias tivessem uma série de dilatações abobadadas. À entrada da mina desembocava um canal que, nas suas imediações, terminava em uma represa que armazenava uma quantidade enorme de água.
Através de uma ordem do encarregado (um legionário romano, geralmente), a água era liberada. Com fúria, avançava em grande velocidade e entrava repentinamente na galeria, alagando a mina. Aí, produziam-se dois efeitos:
– Por um lado, a água erodia as paredes da mina, arrastando a areia e o seixo rolado do chão, paredes e teto, que por sua vez, mesclados com a água, provocavam mais erosão conforme avançavam em seu percurso.
– Por outro lado, e ainda mais importante, a água, ao descer em torrente, paralisava a entrada, e impedia a saída do ar do interior da mina. Pouco a pouco, o ar presente na galeria se comprimia e assim se explica melhor a presença dessas dilatações. Sua forma, mais ou menos circular, fazia com que a mina fosse se enchendo de água de maneira regular, mas a pressão do ar aumentava muito mais rapidamente. De tal maneira que, ao final, o ar acabava produzindo uma explosão. Sim, é isso mesmo. O ar, sob pressão, paralisava-se e provocava uma detonação comparável ao TNT; e o monte inteiro era derrubado.
Depois, os trabalhadores da mina só tinham que lavar as erosões e, por decantação, extrair o mineral. Algumas vezes, lavava-se a areia com mercúrio, elemento metálico que tem a propriedade de se mesclar com o ouro. A amálgama assim formada era retirada e tratada quimicamente, separando de novo o mercúrio do ouro.
O tipo de presença do ouro nas Médulas tornava impossível sua exploração de outra maneira. Neste caso, não era um filão o que se estava explorando, mas estratos sedimentários. Não era uma presença maciça de ouro, mas ouro em pó procedente de uma erosão anterior, concretamente de Mioceno. Este tipo de jazida aurífera é conhecido secundariamente.
De fato, a presença de ouro varia de 60 a 300mg por metro cúbico nas zonas mais profundas, até 20 a 100mg nas capas mais superficiais.
O trabalho realizado era similar à imagem que Hollywood nos mostrou muitas vezes nos filmes da época da febre de ouro americana. Só havendo a diferença de volume. A bateia do buscador era substituída por balsas, que se moviam por milhares de metros cúbicos de água, com o esforço de centenas de operários indígenas.
A água
Isso estabelecia mais um problema de engenharia. Era necessário procurar mananciais suficientemente caudalosos e regulares que abasteceriam a mina.
Para isso, os engenheiros romanos construíram uma enorme rede de canais e depósitos (piscinas) que recolhiam o curso de água que havia pelos arredores. Só que os arredores constituem um relevo de montanha abrupto e agreste, onde dificilmente poderíamos pensar em desníveis facilmente solucionáveis. Qualquer um que tenha visitado as Médulas deve ter comprovado isso sobre o terreno.
E esses arredores incluem distâncias enormes, de até 325km de canalizações. Os canais captavam a água presente nas vertentes dos Montes Aquilianos, e se atreveram inclusive a realizar as obras hidráulicas necessárias para vasar a água da bacia de Duero à de Sil.
Desde Ponferrada, a uns 35 ou 40km da região das Médulas, pode-se ver o imponente bloco do monte Teleno, a mais de vinte quilômetros de comprimento. Até ali chegaram os canais como veias que os romanos construíram para alimentar, a que provavelmente, seria a mina mais importante do império.
O ouro
Segundo trabalho realizado pela Junta de Castilla y León, em relação à zona arqueológica das Médulas, a exploração de ouro nessas minas influenciou diretamente a criação, por parte de Augusto, do sistema monetário apoiado no aureus.
Já mencionamos que a jazida das Médulas é de tipo secundário. Um primitivo filão foi erodido, e as sementes e pó de ouro se aglomeraram em sedimentos durante o Mioceno, que foram posteriormente, explorados na época romana.
Embora tenham existido pontos específicos, onde o trabalho foi realizado manualmente, já que a abundância de ouro permitia, a imensa totalidade das montanhas destruídas tinha a proporção de 20- 100 a 60-300mg por metro cúbico de terra. Com essa “riqueza” de ouro, o trabalho manual era impensável. E aí entra o sistema de exploração romana, com toda pompa.
Plínio nos ajuda com uma descrição dos trabalhos. Explodindo uma ladeira através da introdução de torrentes em galerias, a própria água arrastava as erosões ladeira abaixo, e por decantação, separava os materiais mais grossos (seixos rolados), que hoje adornam como curiosidade toda a região (as múrias). A parte mais densa da torrente era canalizada através de tábuas, e à argamassa de água, barro, areia e ouro, fazia atravessar braçadas de tojo, um arbusto parecido ao romeiro, mas que tinha a particularidade de reter entre seus ramos o ouro. Dessa forma, o arbusto chegava a acumular quilogramas do metal. Por último, o tojo era queimado, e de suas cinzas se resgatava o prezado tesouro.
Quanto à totalidade de terra removida, não existe um consenso unânime, embora todos os dados apontem a uma quantidade monstruosa.
Para David Gustavo López, tiveram que lavar 240 milhões de m3 de sedimentos, com uma média de ouro de 1’98 g/tonelada. No total, nas Médulas obtiveram cerca de um milhão de quilogramas, precisamente, 960.000 kg de ouro.
Javier Villalibre, com os dados de Plínio, o Velho(*), calculou um total para todo o nordeste peninsular de 1.635.000kg de ouro, ao longo dos 250 anos de exploração. Aplicando 50%, que seria o correspondente em quantidade à produção das Médulas, teríamos a não desprezível cifra de 800.000kg de ouro. García Bellido chega à conclusão de que o ouro tirado das Médulas se aproximaria dos 750.000kg.
As últimas investigações falam do processamento de 100 milhões de metros cúbicos de inundação, do qual se extrairiam ao redor de 400.000kg de ouro puro. Embora muito menores, as cifras continuam sendo arrepiantes.
A mão de obra
Quando se aborda o estudo de alguma obra grandiosa do passado, nosso cinismo e egolatria não chegam a estabelecer outra forma de trabalho, que a da enorme multidão de escravos sudorosos que, entre pó e chicotadas, acabam com o trabalho em questão.
Hoje em dia, tanto no Egito com as pirâmides, como nas Médulas com os romanos (e em muitos outros de lugares), demonstrou-se que os sistemas de trabalho não eram esses.
No caso das Médulas, a mão de obra era fundamentalmente indígena. Os povos que habitaram os arredores foram os que, majoritariamente, constituíram a mão de obra não especializada que contribuiu na exploração das Médulas: picadores, carpinteiros, almocreves, cavadores, etc. Todos eles, salvo algum estranho caso isolado, trabalharam em regime de completa liberdade.
O tipo de vida das tribos celtas, astures e cântabras, que confluíram naquele momento e lugar, era bastante diferente da forma de vida romana. O trabalho nas Médulas os “romanizou” até um ponto que, em pouco tempo, fez-lhes abandonar a incerta segurança de seus castros para confiar suas vidas e fazendas a Legio VII Gemina, destaque naquelas regiões. Trocaram seus costumes agrestes e isolada independência por uma convivência que não acabou sendo muito amarga, e que foi adoçada com o mel do refinamento cultural romano. Adotaram língua, moeda, vestimenta, e sobretudo, uma visão do mundo muito menos bairrista. Definitivamente, foram romanizados não pela força, mas sim por uma convivência eleita voluntariamente, quando viram no trabalho nas Médulas uma maneira honrada e mais produtiva de ganhar a vida.
No pequeno museu próximo à jazida, conserva-se como curiosidade, um contrato de um desses operários, um genuíno antecessor de nossos íntimos “batalhadores”. O contrato segue a seguir, transcrito total e integralmente. Julguem, depois, as relações entre patrões e operários e, entre “o opressor romano” e a “valente e irredutível raça” íbera:
Locação de jornadas de trabalho para uma exploração aurífera (fólio 55)
No consulado de Macrino e Celso (164 d.C.), treze dias antes das calendas de Junho. Eu, Flavio Secundino, escrevi, a pedido de Memio, filho de Asclépio, porque afirmou que não sabe escrever. Disse que tinha alugado suas jornadas de trabalho (operae) a Aurélio Adjutor, para uma exploração aurífera, desde o dia desta data até as próximas de novembro, em 70 denários e em comida. Deverá receber o salário fracionado em vários prazos. Deverá realizar jornadas de trabalho completas, sem deduções por enfermidade, a favor do contratista (condutor) antes mencionado (ou seja, Aurélio Adjutor). Se contra a vontade do contratista, interrompe seu trabalho ou abandona a exploração, descontarão do seu salário cinco sestércios por cada dia. Se as correntes de água impedirem o trabalho, a jornada será considerada válida. Se transcorrido o prazo, o contratista atrasar o pagamento, estará sujeito à mesma penalização, salvo se a exploração tenha sido interrompida por três dias.
Assinam o trabalhador (Memio, filho de Asclépio) e os sócios do contratista: Titio, filho de Beusante, apelidado de Bradua, e Socratión, filho de Socratión.
O fim dos dias
O declive das Médulas se situa a partir do ano 150 da nossa era, e o abandono definitivo da jazida foi realizado nos primeiros anos do século III. A razão, poderosa: as lutas intestinas pela sucessão do poder de Roma. A desvalorização da moeda e a crise que atravessava o decrépito Império Romano desencadearam a desatenção das instalações mineiras.
Outros autores vêem no ocaso destas minas a confluência do fator antes descrito com a míngua do sedimento a trabalhar. Simplesmente, não havia mais ouro para tirar, assim fecharam o negócio e se foram para outro lugar.
Por último, convém mencionar a descoberta realizada pelo engenheiro Roberto Matías. Trata-se de uma mina autêntica de quartzo aurífero situada perto dos canais de Llamas de Cabrera. Ao que parece, seu funcionamento destruiu a rede superior de abastecimento hidráulico, desequilibrando-a. Dessa maneira, a nova mina danificaria a exploração do complexo das Médulas.
Evidentemente, é certo que há de um e de outro. Entretanto, inclino-me a pensar que o abandono das Médulas foi motivado por algo mais simples. Ainda ficavam (ficam) sedimentos de riqueza aurífera suficientes para serem explorados, embora não na abundância inicial.
Também é certo que Roma começou seu lento, mas inexorável declive nesta época em que vivemos. Mas o que isso produziu não foi um desinteresse. A queda do Império Romano provocou a incapacidade de administrar uma instalação mineira tão complexa como a das Médulas.
Definitivamente: quando falhou a estrutura imperial que mantinha coesas dezenas de assentamentos pendentes, ora dos canais, ora dos reservatórios, ora da metalurgia ou do abastecimento dos trabalhadores, ou da proteção militar necessária do conjunto, foi quando as Médulas deixaram de ser rentáveis. A forma de exploração e o rendimento das Médulas foram parecidos. É impossível conceber um sistema de trabalho capaz de extrair ouro das Médulas diferente do que se utilizou. Quando o Império Romano decaiu, faltou o cérebro da operação. Ao faltar o cérebro, os membros deixaram de funcionar.
As Médulas dormiram na história porque não houve estrutura social capaz de continuar sua exploração.
Para termos uma idéia de quão bravas foram as lutas contra astures e cântabros, relatemos a seguinte história.
Contam que as derrotas das legiões romanas foram tantas e de tal calibre, que o próprio imperador romano, Otávio Augusto, teve que tomar as rédeas da luta.
A princípio ele estava bem, mas então teve que enfrentar o caudilho dos astures, homem bravo, ardiloso e valoroso, contra quem o poderio militar romano não pôde fazer muito.
Nunca conseguiram enfrentá-lo em uma batalha campal, e enquanto isso, Coroccota, como era chamado este chefe, fustigava a retaguarda e os fornecimentos das legiões que lhe perseguiam, conhecedor de cada palmo do terreno e perito como qualquer natural do país na guerra de guerrilhas.
Augusto decidiu trocar de tática, e emitiu uma ordem que outorgava uma grande soma de dinheiro a qualquer um que lhe trouxesse Coroccota, vivo ou morto.
Uma manhã, o doce sonho do Imperador foi turbado por um alvoroço no acampamento. Incomodado, colocou sua farda e saiu da sua barraca, disposto a castigar severamente o causador de tanto escândalo.
Assim, comprovou que isso se devia à chegada de um pitoresco visitante, um indígena envolto em peles que, da garupa de um cavalo de revoltas crinas causava toda a desordem.
– É você quem oferece uma recompensa por Coroccota?. Perguntou o descarado.
– Sim, sou eu, o imperador Augusto.
– Pois venho para cobrá-lo. Trago-te Coroccota, prosseguiu o estranho convidado.
– Onde está?, Foi a pergunta de Otávio.
– Sou eu. Dê-me o dinheiro…
Depois disso, contam que o Imperador soube reconhecer o valor de seu adversário e, não só lhe pagou, é obvio, mas também entendeu que jamais poderia vencer essas pessoas pelas armas.
Convenceu Coroccota para que assinasse um tratado de paz, e inclusive contam que chegaram a ser muito bons amigos.
E esse foi o final da guerra contra os astures…
A lenda do lago
Evidentemente, uma obra de tal magnitude provocou enormes desajustes ecológicos, que o percurso do tempo foi assimilando. Embora não seja motivo deste artigo, devemos mencionar que o lago de Carucedo, por exemplo, foi formado como resultado do tamponamento do vale pelas escórias jogadas pelas águas. Embora a imaginação popular queira ver outra origem para isso.
Porque contam que há tempo, muito tempo, o jovem general romano Carísio estava loucamente obcecado pela bela filha de seu inimigo Medúlio. A donzela se chamava Borenia.
Contam que Medúlio venceu Carísio uma e outra vez no campo de batalha, protegido pelos deuses invocados em suas danças guerreiras.
Carísio jurou vingar as derrotas e conquistar Borenia. Utilizando poderes, convocou um raio que, durante um combate, aniquilou Medúlio, provocando a debandada de seu exército e o seu massacre pelos romanos. O fogo do céu não só carbonizou o chefe astur, mas também fundiu todos os seus tesouros e os triturou em forma de sementes por toda a montanha…
Enquanto isso, Borenia aguardava escondida num bosque próximo. Carísio a encontra, e a engana dizendo que a paz foi firmada. A alegria a engana, e então é seduzida pelo pérfido Carísio, que não desperdiça a oportunidade.
Na manhã seguinte, Borenia descobre o engano. Aterrorizada, comprova que seu povo foi submetido, seu pai morto, e seus parentes e amigos transformados em escravos.
Angustiada de dor, Borenia chorou e chorou tanto que suas lágrimas acabaram alagando o vale, até formar um lago. Borenia se jogou nele, para nunca mais sair de suas profundidades. Converteu-se em uma ondina, a ondina Caricéa.
Desde então, o lago do Carucedo se encontra protegido pelo espírito da moça, e não são poucos os que afirmam ter visto a ondina, penteando seus cabelos de ouro à luz da lua, na margem do lago, nas noites de São João.
Nota
(*) Alguns dizem que se produziam 20.000 libras a cada ano por este sistema em Astúrias, Gallaecia e Lusitânia, mas a maioria era produzida por Astúrias e, em nenhuma outra parte se mantém esta fertilidade por tantos séculos.
Plínio, o Velho, História Natural.
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