Avicena é uma luz na Idade Média. Mais do que um médico, foi um grande filósofo, buscador da verdade. Sua forte busca pelo saber não se limitava às dimensões de sua personalidade; suas obras enciclopédicas nos mostram essa vontade inquebrantável que habitava seu coração. Busca no neoplatonismo e em Aristóteles as bases para seus ensinamentos, mantendo viva a memória desses grandes filósofos. Foi exemplo de médico e de filósofo.
ABN ALI AL HOSAIN IBN ABDALLAH IBN SINA, também conhecido como Avicena, foi filósofo, médico, matemático, astrólogo, alquimista, poeta, músico, físico, político e místico. Segundo H.P.Blavatsky, Avicena era um “filósofo persa, nascido em 980, apelidado de “o famoso”, autor das primeiras obras de alquimia conhecidas na Europa; diz a lenda que tendo o conhecimento do Elixir da vida, ainda está vivo, como um adepto que se manifestará aos profanos no fim de certo ciclo”. Devido a sua ânsia de saber, também era chamado de al-Shaij al-Rais “o primeiro dos sábios”. Nasceu em Afshana, fronteira com Afeganistão. Ao nascer sua família mudou para Brujara.
Desde cedo mostrou suas aptidões intelectuais. Aos dez anos recitava o Alcorão de memória. Antes dos dezesseis, quando já estudava e praticava medicina; conhecia lógica, física, matemática e metafísica. Empenhou-se muito nos estudos da filosofia e das ciências com uma vontade inquebrantável para além do sono e da fadiga. Sua fama como médico era tão conhecida que, com apenas 18 anos, foi nomeado médico da corte do soberano samaní de Bujara. Permaneceu nesse cargo até a queda do império samaní em 999, e passou os últimos 14 anos de sua vida atuando como conselheiro científico e médico do governante de Ispahán.
Conta Yuzyani, seu fiel discípulo, que aos dezenove anos não se encontrava ninguém que pudesse se igualar a ele nas diversas disciplinas. Sua memória era surpreendente. Quando a monumental biblioteca de Brujara foi queimada, as pessoas se consolavam: “o santuário da sabedoria não pereceu; transferiu-se para o cérebro de Al-Shaij al-Rais.”
Antes de completar 21 anos, escreveu o seu Cânone de Medicina que por muitos anos permaneceu como a principal autoridade nas escolas médicas tanto da Europa quanto da Ásia. É um compêndio estruturado de todos os conhecimentos médicos existentes na época, que constava de 5 livros, a obra é uma síntese que recolhe todo o conhecimento dos grandes médicos greco-romanos: Hipócrates, Galeno, Dioscórides e Aristóteles. A essa base teórica somam-se os conhecimentos de caráter prático da antiga Pérsia e da Índia. Escreveu “O sentido e a Essência”, de quase vinte fascículos, e o livro “O Bem e o Mal”.
Em 1014 (ano 450 da emigração muçulmana) estabeleceu-se em Hamadán. Avicena era, naquela época, um médico famoso e foi chamado para atender o Emir de Hamadán, Shamsodawlah. Aqui começa sua etapa política: o Emir dá-lhe o título de primeiro ministro. Pela primeira vez, Avicena tem a oportunidade de transformar seu ideal filosófico em um ideal político e passará da teoria à prática. Como ocorreu com Platão e Confúcio, tenta aplicar seus conhecimentos ao serviço público em benefício da comunidade com um claro fim pedagógico.
Avicena transmite, tanto na medicina como na política, um único fim: “fazer que os homens sejam melhores e mais felizes, aplicando normas estabelecidas de justiça e direito”.
Evidentemente, seu trabalho lhe trouxe muitos inimigos. Como ele mesmo deixou escrito em uma de suas obras: “Se não houvesse deixado sinal algum no coração dos homens, não teriam se ocupado comigo. Não estariam nem a favor nem contra mim.”
Escreveu o Kitab al-Shifa (O Livro da Cura), conjunto de 18 livros que tratam das ciências fundamentais, da lógica, matemática, física e astronomia. A filosofia de Avicena era uma combinação da filosofia de Aristóteles, neoplatonismo e teologia islã. O título dessa obra explica sua intenção humanista e filosófica, porque se o Preceito estava destinado à cura do corpo. Al-Shifa pretende curar a alma, para que os homens sejam moralmente fortes e nobres. Foi a primeira enciclopédia do saber na Europa. É a obra de recompilação e investigação mais ambiciosa que havia sido escrita até aquele momento.
Despertava antes da alvorada para redigir sua obra a um ritmo de quase cinqüenta páginas diárias e recebia seus discípulos ao amanhecer para instruí-los antes de conduzi-los à oração. Por causa das muitas viagens, demorou dez anos para terminar sua obra, que consta de quatro partes: lógica, física, matemática e metafísica. Nela estão expostas idéias de Platão, Aristóteles, Plotino, Zenón e Crisipo, entre outros, unificadas pelo estilo próprio do autor. A intenção de Avicena era expor o fruto das ciências dos antigos, dos filósofos clássicos. Não era um simples comentário de Aristóteles, e sim um compêndio da sabedoria que havia perdurado até então. Como definiu recentemente um dos comentaristas de sua obra, Al-Shifa “é o universo em um livro”.
O Cânone de Avicena tornou-se, ao fim de uma lenta evolução, que levou cerca de um século, a obra básica do ensino universitário medieval, e ainda era largamente usado no século XVI, apesar da ascensão do antiarabismo. Oferecia soluções a pontos de discordância entre dois mestres do pensamento da Idade Média, que foram Aristóteles e Galeno. Dava, principalmente, um conselho geral: deve-se seguir o filósofo em matéria de filosofia, o médico em matéria de medicina. Devido à vasta extensão dessa enciclopédica obra, escreveu posteriormente “Al-Nayat” (a Salvação), que é um resumo do “Shifa”.
Acusaram sua filosofia de falta de originalidade. Ele não pretendia fazer algo novo ou velho, mas sim resgatar o atemporal. Sua obra era uma síntese de mística e filosofia e foi atacada também por teólogos. Avicena abandona a corte e foge com seu discípulo para Ispahán. Nessa cidade escreveu mais livros. Em agosto de 1037, durante uma campanha bélica para Hamadán, Avicena morre. Conta-se que, sabendo-se gravemente doente, libertou seus serviçais e repartiu seus bens com os pobres.
Descobriu muitos medicamentos, identificou e tratou várias doenças tal como a meningite, mas a sua maior contribuição foi na filosofia da medicina. Criou um sistema de medicina no qual a prática médica podia ser realizada e os fatores físicos e psicológicos, medicamentos e dieta eram combinados. Seu tratado tornou-se a matéria médica mais autêntica de sua era.
A Medicina Islâmica combinava o uso de drogas para fins medicinais com considerações dietéticas – como podemos notar no Cânone de Avicena – e um modo de vida totalmente derivado dos ensinamentos do Islã, para criar uma síntese, que não se extinguiu até aos dias de hoje, apesar da introdução da medicina moderna em quase todo o Mundo Islâmico.
Alberto Magno e Tomás de Aquino nutriam grande admiração por Avicena. Sua influência no Oriente não foi duradoura devido à oposição também dos teólogos ortodoxos. No Ocidente, contudo, Avicena foi decisivo para a difusão do pensamento de Aristóteles nos séculos XII e de igual maneira XIII.
Profundo estudioso de Aristóteles, deu, não obstante, interpretações originais à teoria do conhecimento, observando-se em seus estudos forte influência neoplatônica, que talvez tenha motivado sua intenção de criar uma teosofia mística que sustentasse a fé islâmica. Seu pensamento preparou as descobertas do Renascimento
O mundo Otomano era também uma arena de grande atividade médica derivada da herança de Avicena. Os turcos Otomanos eram principalmente conhecidos pela criação de grandes hospitais e centros médicos.
Fez diversas observações astronômicas e planejou um contrivance para aumentar a precisão de leituras instrumentais. Na física, realizou o estudo de formulários diferentes da energia, do calor, de claro e de mecânico, e conceitos como a força, o vácuo e a infinidade. Propunha uma interconexão entre o tempo e o movimento, com investigações também feitas na gravidade específica, usou um termômetro de ar. Seu tratado em minerais era uma das fontes principais da geologia dos enciclopedistas cristãos do décimo terceiro século. São atribuídos a ele 456 livros em árabe e 23 em persa. Também escreveu inúmeras poesias.
Como ocorre com outros personagens proeminentes da história, querer restringir Avicena apenas a uma faceta de filósofo seria injusto. Ele era médico, filósofo, matemático, astrólogo, alquimista, poeta, músico, físico, astrônomo, político e místico. Sua ânsia de saber não tinha limites. Por isso, a palavra que melhor o define é, tal como lhe chamavam seus contemporâneos, al-Shaij al-Rais, “o primeiro dos sábios”.
BIBLIOGRAFIA:
* http://www.pucsp.br/~filopuc/verbete/avicena.htm
* http://www.islam.org.br/a_medicina.htm
* Canon de Avicena. Autor del Trabajo: Gabriel Garde Herce.
* http://www.newadvent.org/cathen/02157a.htm
* http://faculty.salisbury.edu/~jdhatley/MedArabPhil.htm
* Tradução do Árabe para o Português, do Tratado I, da obra intitulada AL-MABDA’WA AL-MA’_D (A Origem e o Retorno), DE IBN SINA (Avicena 980-1037). Jamil Ibrahim Iskandar.
* Caderno de Cultura. Nº46 . Editora Nova Acrópole – Brasil. Texto de Alberto Granero.
* Glossário Teosófico. Helena Petrovna Blavatsky. Ed. Ground.