A ciência antiga não se separava da arte alquímica. As lendas do passado nos relatam que o espírito dos deuses podia chegar a se albergar no interior das estátuas e animá-las realmente. Os artistas primitivos começavam todas suas obras invocando a presença das musas, para que dirigissem a realização de sua arte e assim, finalmente, os espíritos celestes pudessem habitar no interior das obras, de uma maneira tão real e evidente que chegassem, inclusive, a animá-las. Os magos ordenavam efetuar imprecações e inscrições para cada operação. Ao parecer, quando se confecciona uma imagem, terá que dizer e escrever para que efeito a faz nascer. Terá que saber escolher uma matéria disponível e muito suscetível, e escolher um agente muito potente.
Na elaboração de uma imagem era importante o tipo de material empregado: madeira, marfim, mármore, metal ou combinações entre eles, segundo o tipo de energia que queria atrair. Cada deidade possuía uma cor e perfume determinados, que sempre seriam os mesmos, segundo o tipo de influência que tivesse que exercer.
Supõe-se que todas as obras de arte recebem certas qualidades dos astros. É assim como os magos asseguravam que não só mediante a mescla e aplicação das coisas naturais, mas também pela influência dos astros, imprimiam-se sobre as imagens forças celestes em uma matéria que, por si só, distaria muito de estar bem preparada. Os grandes artistas concebem suas obras ditadas pelo entusiasmo. “Entusiasmo” significa etimologicamente “estar possuído por uma divindade”, “endeusamento”.
Os egípcios da época faraônica não consideravam os hieróglifos – não esqueçamos que as estátuas eram para eles grandes hieróglifos – como meros sinais representativos e imóveis, mas sim, segundo crenças, toda forma esculpida era suscetível de se animar magicamente; por isso, certos símbolos como a serpente, o hipopótamo ou o crocodilo, que podiam significar algum perigo, foram cortados em dois pelo próprio escultor, de maneira que o significado da palavra permanecia, mas o espírito que o possuía já não podia habitá-lo, e se convertia em um símbolo inofensivo.
O que supostamente permite a determinadas imagens o poder de conceder algumas das coisas que lhes pedem e realizar certos prodígios que a ciência atual não pode explicar?
Para os homens do passado, tudo se imbuía de uma visão sagrada da vida e do próprio homem. Por isso, a construção de uma estátua era realizada por um sacerdote que possuía os conhecimentos adequados de cada material empregado, cor, e sobretudo, as leis da analogia espiritual. A cerimônia era realizada em um dia e hora determinados do ano, aqueles que os astrólogos consideravam idôneos para a vinda de um espírito superior.
A força que animava as estátuas residia na vontade do hierofante. Através dela infundia na matéria inorgânica o fogo celeste, dando à estátua aparência de vida e movimento.
Estes sacerdotes-magos recorriam à antiga sabedoria que guardava a arte mágica de insuflar nas estátuas elementais, geralmente muito poderosos, que conseguiam capturar ou convencer para que habitassem a concreção de mármore ou bronze, e os programavam para ajudar a quem implorava à imagem.
Para isso recorriam a formas mentais, criações da mente humana, que servem para dar direção e sentido de ação ao elemental envolvido no processo. Essas formas mentais, devidamente expressas e alimentadas, produzem inexoravelmente mudanças na esfera do material.
Geralmente utilizavam estranhas ligas e pedras raras para fixar melhor um poderoso elemental, mantendo-o ativo durante milhares de anos. Tal é o caso do electrum, material que utilizaram os egípcios para este fim.
O poder do nome
As palavras são um meio que levam consigo não só o conceito, mas também a virtude de quem fala, que passa, de certo modo, a quem as ouve e as recebe, freqüentemente, com tal força que não só mudam quem as escuta, mas também outros corpos e coisas inanimadas. Os magos animavam suas artes por meio de uma fórmula, ou seja, de umas palavras escritas e recitadas que teoricamente davam vida à imagem, que acolhia o sentido referente da oração, desenvolvendo a força implícita na palavra. Desta maneira, a proposta das palavras chegava a se converter em realidade evidente. A palavra era o espírito que as animava.
O nome é também um poderoso meio para invocar as Forças Elementais, segundo os princípios da Magia. Nos tempos de Roma, o nome da deidade tutelar de uma cidade se mantinha em segredo. Diz-se que ter divulgado o nome de uma destas deidades custou a vida de Valério Soranus.
As estátuas vivas possuem em seu interior um segredo sagrado. Com o passar do tempo, se esquece a origem das formas e repete-se supersticiosamente uma fórmula, mas se perdeu o conteúdo, a alma não está na estátua, o céu não está na terra. Quem poderia hoje em dia dar alma a uma imagem, vida a uma pedra, metal, madeira ou cera? Na verdade, este segredo não corresponde ao singelo artesão. Só aquele que dominou os elementos e se elevou até os arquétipos poderia realizar todas estas coisas.
Bibliografia
As estátuas vivas. Ensaio sobre arte e simbolismo. Raimon Artola. Ed. Obelisco.
Dicionário dos símbolos. Jean Chevalier e Main Gheerbrant. Ed. Herder.
Filosofia oculta. Cornelio Agrippa. Ed. Kier.
Magia. A porta. Ed. Obelisco.
Os espíritos elementais da Natureza. Jorge Angel Livraga. Ed. NA.
Não somos os primeiros. Andrew Toma. Ed. Plaza & Janés.