Do fundo da História – Aliança de pactos

Meu nome é Ardashir I, rei dos sassânidas do Irã. E o mesmo deus Ahura Mazda investiu-me de grandeza. É assim que meus artistas nos esculpiram nas rochas do Nasq-i Rustam. Ambos, frente a frente, montados nos poderosos cavalos estépicos. Eu, à esquerda, com meu criado atrás de mim. O deus portando o bastão que é seu emblema. As cabeças dos inimigos, sob as patas de nossas cavalgaduras. Têm nome: Ahura Mazda pisa Ahiram, o mal; e eu piso Ardavan, o último rei arsácida.
Investe-me um deus, porque minha dinastia é de origem divina. Por isso meu juramento real só pode ser feito a uma divindade.
Juramos como é nosso costume, com a aliança dos pactos.
É forte, de duro e maciço metal. Nossas mãos o agarravam, um por cada lado, e eu, o rei, eu, Ardashir I, juro pelos céus, pelos deuses, pelo mesmo Ahura Mazda, que meu governo será justo, misericordioso, que defenderei as terras que me foram legadas e as acrescentarei, que darei bem estar aos meus súditos.
Se assim não o cumprir, o raio do deus entrará pelo centro da aliança de pactos e me queimará, eu e meu trono. Mas o cumprirei, e isso não ocorrerá.
Juram assim vós, em vossos tempos que não conheço, governantes? Também têm uma aliança de pactos? Também fostes investidos por um deus? Se romperem o juramento, queima-lhes um raio divino?
Temo que não. Que à força de ter medos, têm-no também à obrigação que a palavra gera. Que apenas crêem em algum Deus, mas algo muito antigo se remove em suas almas e temem que realmente alguma terrível e poderosa força ancestral penetre no que substituiu a aliança de pactos. Que tendes um medo incoercível de não saber cumprir.
Sei que muitos de vós, governantes, nem sequer juram. Que o que fazem é prometer, como prometem as crianças que serão boas, como minha preceptora me prometia um doce se eu dormisse sem protestos.
Juraram todos os grandes que agora compartilham minha eternidade. Reis fortes e justos, heróis de mil batalhas, legisladores incorruptíveis que deram paz ao seu mundo. Juravam por seu Deus, que fora, com uma aliança de pactos, sobre sua espada, sobre o fogo, ante um altar. E cumpriam, porque era um ato sagrado. E porque sabiam cumprir; não temiam jurar. Disseram-me, sim, que já não tendes alianças de pactos. Apenas ficam, na maioria dos casos, simples promessas.