Salvador Dalí – Galeria Nacional de Washington
Trata-se de uma grande pintura em óleo, de 166 x 267 cm, na qual o gênio espanhol plasmou uma de suas várias representações religiosas, um dos Cristos que lhe são tão caros. Neste caso, trata-se da última ceia, com uma forte raiz tradicional que se relaciona com o maneirismo renascentista: a composição é puramente clássica, com a disposição das figuras dos apóstolos ao redor da mesa, exceto dois deles, que aparecem diante dela e de costas ao espectador. Além do magnífico estudo dos tecidos, com as dobras das capas, sua função é fechar a cena, não deixá-la aberta para o espectador, quase que negando a entrada à Ceia. Porém, além disso, a linha de suas roupagens e suas cabeças, prolongadas, unem-se ao do Espírito Santo, tão estranhamente representado, formando um triângulo, figura mágica que expressa a parte mais elevada do ser humano.
Esta forma geométrica completa-se com o dodecaedro, símbolo da perfeição celestial, um dos “brinquedos dos deuses”, um dos sólidos platônicos. Sobre ele e através dele, aparece essa proteção divina que abre os braços, e cujo rosto não aparece para o espectador.
A figura de Cristo, um Cristo-Apolo, sem barba, não se senta à mesa, mas emerge das águas, as águas batismais, o renascer, e ante ele, a barca, que é também símbolo da alma que navega nessas águas.
Os apóstolos são homens de qualquer época, mescla de monges e cavalheiros, assemelhados aos templários entorno do graal. Um graal que, aqui, é um copo de cristal, em que não podemos deixar de perceber seu maravilhoso reflexo sobre a toalha.
A paisagem que fecha, as rochas, diz-se que é o Port Lligat, no Cadaqués, lar de Dalí. Mas não podemos assegurar essa informação.
O colorido é discreto, suave, luminoso. Nenhuma só nota discordante. A luz invade tudo, mas é detrás da cabeça do Cristo de onde surge a maior luminosidade, rasante, porque o Sol entra em seu ocaso.
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