Em busca da Arte – “Alegoria do Amor e o Tempo” de Bronzino

National Gallery, Londres
Possivelmente, a primeira coisa que nos chama a atenção neste quadro, óleo sobre tela de 146 x 116cm, é a enorme carga erótica que leva, elevada pela extrema juventude de Cupido e a boca de Vênus tão expressa. Depois nos impacta a limpidez e o brilho da cor dos corpos nus, diz-se que esculpidos em alabastro.
É um quadro de gênero cortesão, em que se contrastam o belo e o feio, de atitudes retorcidas e maneiristas. No centro, muito destacada, está Vênus, fechando com suas pernas a delimitação espacial que acima forma o braço de Cronos, à direita o putto e à esquerda seu braço. Em uma mão leva a maçã de ouro do julgamento de Paris e, na outra, a flecha que Cupido lhe arrebatou. Agora é ela quem domina o jovem apaixonado. Este a abraça e acaricia, muito explicitamente, pois o mamilo da deusa, assim como determinadas partes dos corpos de ambos foram cobertos por um véu, que desapareceu na limpeza de 1958.
Acima e à direita, encontra-se Cronos, com seu relógio de areia, que concede aos amantes um tempo e lhes proporciona um lugar belo: o simulacro de céu que estende atrás deles com um pano de um belíssimo azul. Diante dele, ajuda-lhe um misterioso personagem, inexpressivo, em diagonal com as máscaras da esquina inferior direita, é o fingimento que traz o amor, a forma de encobrir tudo o que não gostamos no ser amado, cobrimos, dissimulamos, negamos a realidade.
À direita, um putto sorridente lançará um punhado de rosas. Ele tem cascavéis no tornozelo: é quem vai doar beleza e alegria. Atrás dele, uma estranha quimera de doce rosto, mas com corpo de animal mítico, leva um favo de mel em uma mão e uma garra de ave na outra, face amável a do amor, que esconde seus baixos instintos; que leva doçura, mas que pode rasgar…
Em frente, um homem grita desesperado, arrancando os cabelos. Sua interpretação é incerta, mas poderia ser um símbolo de ciúme ou de mentira, em oposição à alegria do início, à direita.
O tema provavelmente deriva de Pontormo, pai adotivo de Bronzino. Em todo caso, a execução do quadro não foi fácil, como mostram as muitas correções reveladas pelo exame radiográfico. Quase todas as figuras foram trocadas várias vezes de posição. Inclusive as linhas do perfil de Vênus não se adaptam exatamente às pinceladas de cor.