Permita-me o leitor o pouco engenhoso jogo de palavras do título, que me sugeriu a leitura da notícia da criação de uma mochila que gera eletricidade ao andar. A utilidade dessa mochila consiste em proporcionar suficiente energia — 7,4 watts — para fazer funcionar simultaneamente um reprodutor de música mp3, uma agenda PDA, um equipamento de visão noturna em 3d, um GPS, um decodificador de imagens e um telefone móvel. Também pode servir para alimentar um computador portátil ou uma lanterna.
Nossa reflexão nos levou a pensar que todos esses objetos estão ao alcance apenas da sexta parta da humanidade, ainda que precisamente esse mundo rico seja o que consome (e esbanja) enormes quantidades de energia elétrica, seguramente em prescindíveis necessidades artificiais.
Tratando de buscar um sentido mais positivo, gostaríamos que esse invento servisse para andar mais e recarregar as pilhas de todos os nossos aparelhos eletrônicos utilizando menos os automóveis e as baterias contaminantes. Seu inventor disse que também servirá para aumentar a autonomia de exploradores e soldados em zonas remotas.
Cientificamente nos interessa a geração de energia a partir do movimento que se realiza ao andar. A investigação foi levada a cabo pelo doutor em biologia Lawrence C. Rome, dirigindo uma equipe da Universidade da Pensilvânia na Filadélfia (EUA). Esse biólogo é especialista em estudos dos sistemas musculares de locomoção, o movimento dos ossos a partir das atividades musculares, em particular nos casos dos peixes e rãs.
Até agora se havia investigado a obtenção de energia a partir de mecanismo na sola das botas, porém, segundo o Dr. Rome, é mais eficiente obter energia com o movimento vertical, os “pequenos saltos” que realizamos ao andar. Quando andamos o quadril se desloca verticalmente cerca de 5 cm a cada passo, na mesma direção vertical da mochila. O aproveitamento dessa energia é conseguido mediante o preparo da mochila para transformar a energia mecânica da passada em energia elétrica que pode ser usada enquanto se caminha ou que pode ser armazenada em baterias para utilização posterior, o que serviria para recarregar outros tipos de baterias mais pesadas.
A mochila é formada por uma espécie de armadura rígida que, em lugar de se fixar no quadril, se conecta a este por uma placa que registra os movimentos através de “molas”. A placa se desloca por “trilhos” que transmitem o movimento a um gerador que produz a eletricidade. A quantidade de energia gerada depende do peso da mochila e da rapidez com que se anda. Segundo os investigadores, carregando cerca de 25kg (o peso típico da mochila de um militar ou de um explorador) se poderia gerar constantemente uma potência de 7,4W, quantidade suficiente tendo em vista que os telefones celulares ou os óculos de visão noturna consomem apenas 1 watt.
Um sistema de molas faz com que seja mais cômodo levar a mochila e o peso das baterias, pelo qual se reduz o custo energético da caminhada.
“Metabolicamente falando”, diz o Dr. Rome, “temos encontrado que o resultado é mais barato do que pensávamos: a energia que se requer para transportar o gerador é a mesma que o transporte de um tênis, que não é nada comparado com o peso de uma carga extra de baterias.
Juan Carlos del Río